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Posts Tagged ‘lisboa’

Da ausência

Era para vir cá mais cedo, mas não deu. Há dias que penso em vir escrever, dar-te alguma atenção, conversar contigo. Mas os dias passam tão rápido, as horas tão ocupadas, os minutos tão avassaladores, que – e até tenho vergonha de admitir – nem sempre tenho ‘paciência’ para voltar aqui. És importante, não nego. Foste pensado ao pormenor, com carinho, com tudo aquilo que um projecto deve ter. Foste pensado a dois, como os bebés que nascem dos casais em todos os dias do ano. De todos os anos. E se vão multiplicando em expressão e em amor. Como nos filmes. E não há semana em que não me lembre de ti com todo o carinho com que te fui construindo. Mas as coisas são mesmo assim. Já dizem na vida real. Que as relações são mesmo de altos e baixos, de paixão e de desencantamento. De velocidade e pausa. Como a nossa. Por isso, hoje vou fazer uns bolinhos contigo, dar-te alguma atenção. Conversar contigo sobre os últimos meses. Fazer um balanço: o possível. Porque sei que não será o que eu mais queria. Mas aquele que é necessário para avançar.

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Um dia acreditámos que era possível. Acreditámos, ainda sem saber o que a vida nos reservava, se estaríamos longe, pert ou assim-assim.

Acreditámos com a alegria ingénua das crianças que sonham. Que sonham com força, com toda a sua alma e o seu coração. Acreditámos, porque acreditamos que os sonhos são possíveis. Mesmo que os outros os não percebam!, mesmo que sejam só nossos, que sejam tontos, que pareçam disparatados aos olhos de quem os vê ou ouve – mas não os sonha. E isso faz toda a diferença.

Sonhámos, acreditámos, lutámos, trabalhámos, duvidámos, hesitámos…e no final estávamos lá. As duas. A quatro mãos, como nas vezes em que eram só sonhos e crenças de crianças que afinal são crescidas. As duas. A quatros mãos, como aqui.

“Porque se todos os sonhos são possíveis…então todos são passíveis de se concretizar!!!! Porque remar contra a maré a duas… é difícil mas é possível!”

E foi!

 

Entrada na Nossa Agenda a propósito da presença de Barack Obama na Cimeira da NATO, em Lisboa.

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Misturam-se os idiomas enquanto as cores desfilam diante dos olhos. Cansados. Há sorrisos frescos e olheiras de saturação e desesperança. Os barulhos e as campainhas não param de chegar, cada vez mais ritmados e cada vez mais alto. Pelo menos assim parece, tal as repetições e repetições e repetições que já tiveram que ouvir.

Há meias-de-leite e sandes de fiambre nas mãos das crianças, cansadas de ver sempre o mesmo lugar de não ter com o que se distrair. Já não há músicas novas nos iPod, nem bateria dos computadores, nem energia nos corpos. Nem bancos livres ou rostos desconhecidos.

Já não se olha para a agenda, já não se desmarcam compromissos. Não é preciso. Já não há ‘gadget’ que divirta ou que distraia, nem conversas novas que possam ser feitas. Ou posição para se estar.

Tudo é saturação e aborrecimento. E o cinzento que tudo provoca é invisível. Pelo menos aqui.

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É uma cidade encantadora, não há como negar. Das grandes avenidas, com enormes árvores centenárias e trânsito caótico, às pequenas e estreitas vielas onde temos de passar em fila indiana, mesmo quando vamos em grupo. Especialmente quando vamos em grupo. Lisboa é assim. Uma cidade onde os opostos se cruzam como se vivessem eternamente em perfeita simultaneidade. Onde é esse cruzamento que deixa na minha Lisboa um toque tão especial como em nenhuma outra. Nunca aqui me senti sozinha. A cidade é suficiente para fazer-me companhia, mesmo quando os amigos não estão, ou me apetece estar simplesmente em silêncio. Aqui posso esconder-me quando quero, no alto do Parque Eduardo Sétimo onde os olhos descansam sobre a paisagem encantadora. E o rio lá ao longe dá as boas-vindas a fins-de-tarde introspesctivos. Aqui posso correr até Belém, e sentar-me nas pedras centenárias a ver o rio, agora tão perto, bater na margem, impiedosamente. Como os meus pensamentos. Os meus anseios. Como os meus desejos a bater na minha alma.

E daqui, naquele eléctrico que pelo menos uma vez já todos usámos, tão rapidamente me escondo encostada a uma árvore da Gulbenkian, como numa qualquer loja de centro comercial, ou num beco sossegado de um bairro histórico. As subidas só custam enquanto não me lembro da paisagem que verei lá no alto. As pedras do caminho só me doem enquanto não olho Lisboa, na sua velhice, na sua antiguidade, no seu saber que a enche de encanto e a mim de paixão. O cansaço só me consome quando perco as memórias da luz de Lisboa. Aquela luz dourada que não há em nenhum outro lugar do mundo. Quando vislumbro a vista de Lisboa, vista do alto de um qualquer miradouro, apercebo-me de que a cidade é a mais iluminada que conheço.

E sei que, de saudades, aqui, nunca morrerei.

Entrada Na Nossa Agenda a propósito da notícia:

SPECIAL EDITION

Top 25 Most Liveable Cities 2009

Where are the top 25 places in the world to call home? Listen to our countdown of the metropolises on the move and cities on the slide. For the survey in full read issue 25 of Monocle – the July-August 09 issue. But a warning: after listening to this report, you may want to move your base.

http://www.monocle.com/sections/edits/Web-Articles/Top-25-Cities/

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Há quem tenha chamado àquela semana, os jogos sem-fronteira do jornalismo. Os desafios eram lançados durante a manhã e, sob pressão, os trabalhos entregues antes do “fecho” da edição, muito mais cedo do que é comum nos jornais diários. Ainda não sabíamos nada do projecto e ele já nos apaixonava. Como o fado apaixonou Carminho, numa viagem à volta do mundo. Foi dessa viagem – da qual eu soube pelo irmão da fadista antes mesmo de acontecer – que eu quis saber mais. No último dia de provas, marquei entrevista com a Carmo em Campo de Ourique. Não quis perturbar-lhe a rotina e afastá-la muito de casa, quando estava ocupada entre os ensaios de um tributo a Amália e a gravação de um disco, não era, de todo, o meu objectivo.

Queria acabar bem as provas, ser uma das escolhidas. Queria contar uma história fascinante, com altos e baixos, na primeira pessoa e sob a forma de entrevista. Escolhi-a por saber da simplicidade e da coragem de correr mundo. Não sabia que o mundo dela poderia fazer saltar o meu mundo. Chegada a hora da entrevista, liguei-lhe para saber onde estava. Não me atendeu. Voltei a ligar uma, duas, dez, vinte vezes. O tempo passava – que esse não nos perdoa passos em falso nem volta atrás. Precisava das palavras, da história, do factor ‘interlocutor’. Sabia dos ensaios no Campo Pequeno, voei para lá. Perguntei a seguranças, a pessoas na rua. A mim. Ninguém sabia da fadista. Liguei ao irmão. Contei-lhe. Tentou, também ele, ligar-lhe. Nada. E a entrevista por fazer, o audio por gravar, o vídeo por editar. Segui para Oeiras pouco faltava para a hora da entrega. Cheguei ao parque de estacionamento, desliguei o carro e levei as mãos à cabeça. Como fazer uma entrevista a alguém com quem não consigo falar? Toca o telefone. Do outro lado, uma voz ensonada, acabada de acordar. Reclamo atenção, pede desculpa. Reclamo tempo, espaço, cadência, rapidez. Escrevo a experiência sem lhe ver os olhos. Sem olhar os movimentos. Sem pormenores, que o telefona ainda não permite o contacto físico. Imagino-lhe os movimentos do corpo pelo entusiasmo da voz. Desfaz-se em desculpas. Que adormeceu, que anda cansada e o telemóvel estava sem som. Conto-lhe da prova que é participar num jogo sem-fronteiras do jornalismo, e daquela que é a derradeira prova. Sem perceber que o meu fado é este: sou estafeta. Tarefeira. Cabe-me olhar os outros, saber-lhes as histórias e contá-las. Derradeira prova do jornalista nunca é. Ou é sempre, todos os dias, se quiser superar-se. Transcrevi a entrevista. Gravei um texto com o percurso da viagem mundial. Sequenciei fotografias. Passei a prova. 

Entrada Na Nossa Agenda a propósito da entrevista à fadista Carminho, publicada no i:

“Tenho um juiz severo dentro de mim e isso é muito chato”

Carmo Rebelo de Andrade, 24 anos, precisou de um ano a viajar à volta do mundo para perceber que o seu fado era cantar. Tem voz rouca e gargalhada fácil

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