Liguei a telefonia esta manhã. A notícia, a juntar a todos os ecos sombrios, era sobre o perigo da interrupção de transportes dos doentes às consultas. Motivo: falta de pagamento por parte dos hospitais às corporações de bombeiros que prestam o serviço.
Ontem. Notícia: Transferência de verbas para os municípios põe em risco fornecimento de refeições aos alunos do pré-escolar. Mais logo, decerto: Corrupção, facturas não contabilizadas, assaltos aos multibancos, contestação ao novo modelo de avaliação, desemprego, perspectiva de aumento do IVA.
Sente-se no ar o desalento, o cinzento nas roupas, o vaguear das famílias sem rumo, a alienação nos centros comerciais, nos “reality-shows”, nas telenovelas e revistas cor-de-rosa, agora mais cinzentas e menos rosa; nos cartões CETELEM, FNAC, IKEA, que alimentam o consumo e enganam a miséria. Mas a substância não existe, o dinheiro é virtual, como são virtuais as fontes de rendimento. O que produzimos agora? O que produziremos? O que estamos a fazer para mudar a situação? Nada. Porque aguardamos inconscientemente que um Deus maior nos salve. Só que Ele desta vez não vem.
Um amigo sensato dizia-me – os problemas resolvem-se, o que assusta é não vislumbrarmos a luz ao fundo do túnel.
Temos problemas, sim. Temos dívidas, sim. Desemprego e agitação social, sem dúvida. Mas teremos saída? Por mais optimistas que sejamos, por mais empreendedores que tentemos ser, onde está a matéria-prima necessária? A mão de obra qualificada, uma estrutura fiscal eficiente, um sistema de justiça célere, um código de trabalho claro e flexível, códigos de ética e rigor…
Temos problemas, sim. Mas para esses há soluções. Pensaremos e poremos em prática alternativas, ideias e sonhos.
Mas quando nos tirarem a esperança, aí sim, vamos definhar.
*Escrito por Luísa Lopes.
Entrada Na Nossa Agenda a propósito das surpresas. De um pensamento matinal, de um texto escrito e que se quer ver publicado. Só porque as boas reflexões são para partilhar. Não têm que ser privadas como uma agenda pessoal, mas tornadas públicas como uma agenda que é um pouco de todos.